Metodologia Extreme Go Horse – uma sátira a absurdos

Metodologia Extreme Go Horse – uma sátira a absurdos

Se você trabalha com desenvolvimento de projetos, já se acostumou a ver, de tempos em tempos, uma nova metodologia surgindo e passando a ditar as regras. Bom, para sua sorte, a Metodologia Extreme Go Horse (XGH) não é uma delas.

Neste método de trabalho vastamente popular em todo o mundo, a aceleração é máxima, o que costuma contar a favor das demandas urgentes. Da mesma forma, profissionais com dificuldade para organizar o próprio cronograma também tiram proveito da XGH. Por outro lado, qualidade e segurança correm na contramão.

Em síntese, o tempo é fator primordial na Metodologia Extreme Go Horse, o que faz com que ela seja, frequentemente, associada a metodologias ágeis. Mas não se engane, tudo isso é uma farsa (para sua sorte, como falamos no início), apesar de ser vida real ao extremo.

As origens

A Metodologia Extreme Go Horse organiza um conjunto de práticas e uma linha de pensamento considerada desprezível, mas que sobrevive e se mantém ativa como recurso essencial aos desesperados. 

O trabalho de conceituar e ordenar os elementos que a compõem foi primorosamente realizado por Mário Marolo e Ornado e, depois, por André Gomes. A última versão, atualizada em 2022, está aberta à comunidade no site oficial. Lá, é possível encontrar o que há de mais identitário na Metodologia Extreme Go Horse. Indo além, a partir da leitura dos propósitos e valores que norteiam o método, podemos entendê-lo em seu âmago.

A ausência de qualquer orquestração imposta ao ritmo e à liberdade dos profissionais não só exalta como valida a ideia de que “o poder vem de fazer as coisas do seu jeito ao invés de tentar padronizar práticas de gestão e de execução.” Se você se identifica, não perca tempo: no mesmo site, é possível se inscrever para a prova de certificação na Metodologia Extreme Go Horse.

Cases marcantes

Vale ressaltar que nem sempre a Metodologia Extreme Go Horse é devidamente creditada em cases que devem a ela sua fama. Nesse sentido, podemos citar o lançamento do serviço de streaming Disney+, em 2019, que gerou inúmeras reclamações. As dificuldades descritas pelos usuários incluíam falhas, lentidão e incompatibilidade com dispositivos. 

Sem citar o método aplicado no ao longo do projeto, a Disney admitiu que agiu com pressa no desenvolvimento do serviço, priorizando o lançamento dentro do prazo em vez da qualidade. Assim, apesar da omissão, revelou que os axiomas pilares da Metodologia Extreme Go Horse tiveram parte na hecatombe do lançamento.

Alguns anos antes, em 2012, a Microsoft também apostou em colocar o prazo na frente da qualidade. Sabendo que a Apple estava prestes a lançar seu novo sistema operacional, a empresa apressou o lançamento do Windows 8, que chegou ao mercado com muitos problemas, incluindo uma interface confusa e a falta de suporte para aplicativos tradicionais do Windows.

É hora de Go Horse

De fato, uma das situações mais propícias para as dinâmicas da Metodologia Extreme Go Horse se dá na fase de lançamento de um produto. Seja quando a oportunidade ideal se apresenta antes da finalização de um projeto ou quando a concorrência ameaça sair na frente com uma inovação, é comum que a pressão seja grande, impondo pressa e, consequentemente, abrindo as portas para falhas.

Há, no entanto, ocasiões em que a XGH se impõe, como diante de um bug crítico que ameaça a operação ou de uma emergência que exige correr contra o relógio. Circunstâncias assim podem exigir que os gestores se esforcem para que o “menos pior” aconteça, justificando soluções temporárias, de baixa qualidade e, eventualmente, mais custosas. Depois, com a crise resolvida, a equipe coloca o retrabalho em ação e corre atrás dos prejuízos. Aliás, se há uma certeza na aplicação da Metodologia Go Horse é que os prejuízos vêm a cavalo.